- Tele.sintese, Publicado em Segunda, 18 Março 2013 15:56
- Escrito por Marina Pita
A segunda operação virtual prestes a ser lançada começara com serviços M2M
Apesar do modelo de operador virtual móvel (MVNO) ter sido aprovado pela Anatel em novembro de 2010, a Porto Seguro segue como a única MVNO do país, com 8,3 mil acessos, conforme dados de dezembro. No entanto, este cenário deve mudar este ano, a partir do segundo semestre, de acordo com os fornecedores Bichara e o MVNE Siteer. Segundo fornecedores, cerca de 50 empresas estudam ser operadoras virtuais, e novos concorrentes devem chegar ao mercado no segundo semestre de 2013.
Na verdade, alegam, alguns projetos poderiam ter saído ainda no primeiro semestre, mas a aprovação do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) – que alterou os valores de taxa de interconexão e criou regras para aumentar a concorrência na banda larga no atacado – fez com que algumas companhias tivessem de renegociar os acordos com as MNOs. Como o pedido de autorização, ou anuência no caso das credenciadas, da Anatel só pode ser pedido com o contrato fechado entre as partes, alguns projetos ficaram mais tempo em stand by.
De acordo com Daniel Bichara, da Bichara Tecnologia, existe hoje maior amadurecimento do modelo de MVNO no Brasil, com a desmitificação do processo. “Aquela história de que é impossível fazer acabou. Pode ser difícil, mas o mercado se ajusta porque as regras valem para todos”, afirma. Diversas boatos têm circulado no mercado sobre a proximidade de acordo da Telefônica Vivo com uma empresa com sede na Califórnia (EUA), mas que agora amplia sua atuação no Brasil. O acordo abrangeria primeiramente a oferta de telefonia móvel e dados como MVNO credenciada e posteriormente como autorizatária. Procurada, a operadora preferiu não se manifestar sobre o tema neste momento.
O que está certo é que a Bichara, em abril, poderá comemorar o lançamento comercial do primeiro negócio de MVNO no país utilizando sua tecnologia: o MVNO da Tesa Telecom, utilizando a rede da Algar Telecom. A Tesa que atua apenas no setor corporativo anunciou em maio o projeto piloto de operadora virtual móvel com foco na entrega de serviços quadri-play em todo o território nacional. Os testes envolveram serviços machine-to-machine (M2M) e numa segunda etapa, entrarão os serviços de voz. A MVNE, neste caso, é a Transtelco.
A Tesa Telecom conseguiu em dezembro a licença para operar como MVNO e em janeiro o recurso de numeração, sendo que deve respeitar a quarentena de 90 dias para o início da operação. Aí então o Brasil ganha sua segunda operadora virtual móvel.
Apesar de confiante no avanço deste segmento, a Bichara está receosa com o impasse que a aprovação do PGMC causou nas negociações com empresas interessadas em operar e as MNOs. “Temos quatro clientes que estavam nos finalmente nas negociações e estão com os processos suspensos até o final de março, enquanto as teles avaliam o impacto do plano”. Segundo Bichara, atender operadores virtuais com poucos assinantes – entre 30 mil e 40 mil acessos – deixou de ser vantajoso para MNOs e é possível que alguns projetos simplesmente não saiam.
A avaliação do impacto do PGMC no setor é parcialmente compartilhada por Greg Descamp diretor presidente da Sisteer, MVNE que tem parceria com a TIM. Para ele, o PGMC de fato forçou revisão de modelos de negócio já praticamente definidos. No entanto, afirma ele, as MNOs e as empresas interessadas em serem operadoras virtuais móveis já chagaram a novos acordos para dar continuidade aos planos de negócio. “O PGMC, de fato, forçou uma renegociação. Mas isso já aconteceu e agora as empresas estão trabalhando na integração técnica, um outro desafio”, diz. Segundo ele, a Sisteer está trabalhando em um punhado de projetos de MVNO e tem expectativa de colocar alguns deles em operação ainda em 2013.
A operadora virtual inglesa Virgin Mobile, que segue com sua estratégia de atuação na América Latina, divulgou em dezembro que já negociava um aporte financeiro para entrar no mercado de telefonia móvel brasileiro, após obter crédito de R$ 14 milhões junto ao IFC para estruturar seu negócio na Colômbia e Chile. Questionada sobre o impacto do PGMC nos seus planos de atuar no mercado local, o chairman Phil Wallace respondeu: "Nós vemos o PGMC como neutro a favorável para a VMLA [Virgin Mobile Latin America]. O cenário mudou um pouco e o resultado em termos de mercado são um pouco imprevisíveis, uma vez que ainda não sabemos como os operadores absorverão os impactos nos planos ofertados aos seus clientes".
Segundo Greg, uma operação de voz e dados móvel voltada para o consumidor final - tal como a Virgin Mobile está interessada - é algo complexo e por isso estas iniciativas são timidas. “Negociar um acordo com MNO leva de seis a oito meses. Com mais alguns meses, consegue aprovação da Anatel, então diria que é um prazo de um ano. Depois disso, precisa ainda estabalecer a infraestrutura junto à MNO ou buscar uma MVNE”.
Apesar das dificuldades, Greg está otimista com os negócios. Segundo ele, existem cerca de cinquenta empresas avaliando MVNO no Brasil, algumas para telefonia móvel no varejo. “Tem empresas nos procurando para atuar no mercado de varejo de voz e estamos trabalhando em vários projetos”.
O interesse das operadoras pelo mercado brasileira de telecomunicações, na avaliação do CEO da Sisteer, se deve não apenas ao país ser uma economia emergente. A oportunidade de expor uma marca a nível mundial estaria garantida no Brasil por conta da Copa do Mundo de futebol e das Olimpíadas, o que tem feito com que a atenção de algumas companhias se voltem para cá. Em janeiro, uma portavoz da Orange telecom declarou que a operadora francesa busca negócios no Oriente Médio, África e América do Sul. Uma divisão foi criada, a Horizons, para iniciar estudos no Brasil, África do Sul e Arábia Saudita.
Onde não sai
Apesar de se falar mais no avanço do segmento de MVNO no Brasil, ainda há um impasse sobre a possibilidade de empresas que operam em telecomunicações como GVT e Algar Telecom conseguirem acordo com uma MNO. Ambas reclamam que as companhias não têm qualquer interesse em tornar possível a entrada das concorrentes no mercado de voz movel nacional. “O problema está na regulamentação brasileira. Se a empresa não quiser fazer um contrato, ela não faz e pronto”, afirma o presidente da Algar Telecom, Divino Sebastião de Souza.
A pequena Sercomtel, no entanto, tem conseguido avançar nas negociações com operadoras para se tornar uma MVNO no estado do Paraná. "Estamos ainda em fase de namoro", afirmou ao TeleSíntese, Marcus Vinicius Brunetti, gerente de regulamentação e interconexão.
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