sexta-feira, 29 de agosto de 2014

INTERNET DAS COISAS, A QUARTA ONDA.



A Internet das Coisas ou Internet of Everything (IoE, sigla em inglês) como é conhecido o conjunto de tecnologias capaz de conectar máquinas, processos, informações e pessoas, está ganhando dimensões gigantescas em números de transações e valores e é prioridade em diversos segmentos da economia, tanto no setor privado como público.

Análises e pesquisas feitas por empresas globais de TI informam que a IoE será tão impactante na vida das pessoas, nos próximos anos, como foi a chegada do computador, a da Web e a da telefonia celular. Previsões internacionais indicam que o número de equipamentos e dispositivos conectados até o final da década será maior do que 50 bilhões, gerando 35 trilhões de transações de dados e movimentando dezenas de trilhões de dólares.

Celulares, tevês, lâmpadas, geladeiras, micro-ondas, relógios, pulseiras, semáforos, pedágios, centrais de trânsito, turbinas de avião, distribuidoras de energia, carros, roupas, câmeras de vigilância, uma infinidade de aparelhos, máquinas, processos recebendo e enviando dados para a nuvem e datacenters por redes sem fio e satélites. Isso é a IoE, que se impõe não por ser um conceito bonito, mas porque é uma força econômica mundial. Sistemas inteligentes se comunicando com vários dispositivos e em rede garantem um grande impacto, oferecendo mais eficiência, redução de custos, criação de novos produtos, modelos de negócios e valor agregado.

Não por acaso empresas e governos se movimentam para padronizar protocolos de comunicação e desenvolver produtos e softwares para a nova revolução das máquinas e coisas. A Cisco é uma das gigantes de TI envolvidas nesse desafio tecnológico. Seu diretor de vendas do segmento corporativo para a América Latina, Luis Rego, lembra que a IoE representa a quarta onda da internet. A primeira foi a simples divulgação e acesso da informação; a segunda, o comércio eletrônico; a terceira, a Web 3.0, colaborativa e com a massificação da mobilidade.

Max Ciqueira, consultor da Lyra Network, especializada em serviços de telecomunicações, lembra que hoje tudo está relacionado ou se conectando. "A IoE é um conceito que nos remete a uma estrutura de redes se relacionando com plataformas de aplicativos, entrega de serviços e conectividade básica". Para Ciqueira, tudo faz parte de uma revolução tremenda no mercado de tecnologia, com a criação de novas estruturas, serviços e necessidades específicas. O consultor cita um exemplo simples de IoE já conhecido do usuário: uma pessoa instala uma câmera de monitoramento em casa e, por meio de um aplicativo ou software inteligente, acessa o interior dela ou aciona algumas funções remotamente. No varejo, o consumidor identificado e mapeado por sensores e aplicativos de celulares foi integrado à IoE.

DE BARCELONA AO BRASIL

Algumas aplicações mais coordenadas estão em andamento em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, e ampliam a ideia de cidades inteligentes ou digitais onde se dá a integração total dos serviços e processos da IoE. Barcelona é uma cidade considerada referência nesse conceito, segundo Luis Rego. A capital catalã teve uma transformação urbana radical para abrigar os Jogos Olímpicos de 1992, revitalizando bairros e a área portuária e, agora, tem sido alvo de vários projetos urbanos com tecnologia "smart". Com redes wi-fi públicas e sensores, por exemplo, a prefeitura monitora as lixeiras nas ruas e sabe, em tempo real, quando precisam ser esvaziadas. Com isso, gerencia melhor as rotas de coletas e reduz custos de operação e manutenção.

Barcelona também oferece serviços virtuais, com vídeos que permitem à pessoa se comunicar com a prefeitura sem precisar se locomover até a repartição pública. Paradas de ônibus e veículos conectados também informam direcionamento, trajeto e tempo de espera para o transporte coletivo (algo similar ao que se está tentando em alguns pontos de São Paulo). Estacionamentos informam onde há vagas disponíveis, a iluminação pública, com sensores e protocolos de internet, também dispõe de gerenciamento e manutenção de lâmpadas. Com essas e outras aplicações a prefeitura da capital da Catalunha prevê economizar 3 bilhões de euros, reduzindo custos de operação e aumentando a eficiência.

Em São Paulo, destaque para as pequenas Águas de São Pedro e Aparecida do Norte. A primeira, com cerca de 3 mil habitantes, está se transformando na primeira cidade totalmente digital do País com apoio da Telefônica Vivo. A primeira fase do projeto foi concluída em abril, com a instalação da banda larga por fibra óptica e rede móvel 4G. Com cobertura de Wi-Fi por toda a cidade e em altas velocidades, Águas de São Pedro está se adiantando no futuro. Terá sensores nas ruas para contagem de veículos, iluminação inteligente, monitoramento de segurança, consultas médicas via Web, agentes de saúde usando tablets integrados à plataforma eHealth da Telefônica e painéis eletrônicos com informações para turistas. A Telefônica investindo R$ 2 milhões na cidade desde o ano passado.

Em Aparecida do Norte, com cerca de 40 mil habitantes, a EDP (empresa portuguesa do setor elétrico) está instalando uma smart grid (rede inteligente de transmissão e distribuição de energia) nas zonas urbana e rural. O objetivo é a medição eletrônica, geração distribuída, eficiência energética e mobilidade elétrica. "Com sensores nos medidores residenciais e industriais é possível medir o consumo e distribuir a energia de forma mais confiável, além de reduzir furtos", afirma Rego. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul devem investir US$ 275 bilhões nos próximos 10 anos em infraestrutura para essas redes elétricas inteligentes.

PRIVACIDADE É O DESAFIO

Fernando Martins, diretor-executivo da Intel, especialista e apaixonado pelo assunto, cita outra aplicação da IoT que visa a reduzir o tempo dos aviões em solo para manutenção. Turbinas de aviões de última geração da GE dispõem de processadores internos e sensores para testar a vibração dessas turbinas e enviar dados em tempo real (e por satélite) para a central de manutenção. Enquanto estão no ar, em voos de carreira, essas turbinas são testadas online. Se precisarem de manutenção ou troca de peças isso será feito de forma mais rápida e racional em solo, onde já estará tudo preparado para recebê-las.

A Intel criou até uma divisão para desenvolver produtos (chips, dispositivos) e sistemas para a IoE. Martins destaca que o impacto econômico dessa tecnologia envolvendo pessoas, coisas e processos até o fim da década será perto de US$ 30 trilhões - tanto no setor privado como público. Relatório da Cisco diz que no ano passado, só no setor privado, a IoE movimentou mundialmente US$ 613 bilhões.

A privacidade é um dos desafios dessas novas tecnologias, mas Martins observa que o cidadão "até concorda em abrir mão de parte dela para desfrutar de uma sociedade mais inovadora, conveniente, segura e inteligente". Segundo estudo mundial encomendado pela Intel, mesmo os brasileiros não se importariam em ter menos privacidade se isso lhes permitisse melhor circulação nas cidades, com rotas que lhes dessem ganho de tempo na viagem. Mais: 83% dos entrevistados no Brasil permitiriam que fosse instalado um sensor em seus carros para encontrar uma vaga em estacionamento.

O objetivo da Intel é ambicioso. A empresa quer criar e estender tecnologia computacional para conectar a vida de todas as pessoas do planeta até o final da década. Mas todos esses sistemas, dispositivos e processos geram um tráfego monumental de dados e para que eles fluam sem dificuldade e de maneira natural, são necessários protocolos de comunicação. Por isso, várias empresas estão se agrupando em consórcios para definir esses padrões abertos que permitam a interoperabilidade dos objetos com os sistemas, entre elas estão a IBM, AT&T, Cisco, Samsung, LG, Intel, Panasonic, GE, Google, Qualcomm. São essas alianças que precisam resolver os grandes desafios dessa nova onda.

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