Consumidores precisam escolher comercializadora; Abraceel diz que medida é tendência natural em mercados maduros
Por Luciano Costa, jornal da energia
Desde 1° de julho, grande parte dos
consumidores de energia de Portugal encara uma nova realidade. O
governo do país iniciou um movimento para acabar com o mercado regulado
e, com isso, cada cidadão será obrigado a procurar um comercializador
para fechar contratos de compra de eletricidade.
Nessa primeira etapa, serão atingidos
aqueles que possuem potência igual ou maior que 10,35kVa. Esse segmento
terá um período "de transição" até o fim de 2014, durante o qual, caso
não faça a opção por um comercializador, continuará a receber a energia
da empresa que o abastecia antes. No caso, a EDP Portugal. Para quem tem
potência menor que 10,35kVa, a tarifa regulada acaba em 31 de dezembro
deste ano e o período de transição vai até o final de 2015.
Desde 2006 a migração para o mercado
livre já é opcional para todos cidadãos portugueses. No ambiente
regulado, as tarifas de energia são controladas pela Erse - o
equivalente à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) brasileira - e
o consumidor não define seu fornecedor. No ambiente livre, é preciso
escolher e não há mais regulação, sendo os preços praticados de acordo
com a concorrência.
Segundo o governo de Portugal, há cerca
de 5,6 milhões de consumidores que ainda estão no ambiente regulado. As
mudanças só não são válidas para as regiões autônomas de Açores e
Madeira, uma vez que nesses locais não há concorrência entre
comercializadores para permitir o fim da regulação. Já os clientes de
baixa renda continuam com a opção de ficar no mercado regulado - e têm
direito a manter seus descontos.A migração entre os ambientes é
gratuita, não implica em troca de medidor e nem causa interrupção no
fornecimento.
Segundo a Erse, espera-se, com as
medidas, "aumento da concorrência, com reflexos no nível dos preços e na
melhoria da qualidade de serviço". Portugal, porém, tem uma
característica bem diferente do Brasil: o número de comercializadoras.
São apenas seis que atuam com energia - EDP, Endesa, Galp Energia, Gas
Natural Fenosa, Gold Energy e Iberdrola. Por aqui, são 128 empresas do
ramo, segundo o último InfoMercado da Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica (CCEE).
Para o presidente da Associação
Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel),
Reginaldo Medeiros, a medida portuguesa "é uma tendência mundial" e pode
reduzir os custos no final da ponta. "É melhor o consumidor escolher de
quem quer comprar do que uma distribuidora fazer isso e ficar brigando
com o regulador para repassar custo, muitas vezes indevido, ao
consumidor", analisa.
No Brasil, o mercado livre ainda é
restrito a agentes com grande carga. Aqueles que consomem entre 500kw e
3MW são considerados "especiais" e podem entrar no segmento apenas se
utilizarem fontes alternativas de energia, como eólicas e PCHs. E os com
demanda a partir de 3MW não têm restrição quanto ao suprimento.
Para Medeiros, uma medida positiva está
em discussão na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): a criação
do comercializador varejista, que facilitaria a entrada de pequenos
players no ambiente livre. Isso porque hoje, para migrar, o consumidor
precisa aderir à CCEE e passa a ter diversas obrigações, o que é
complexo e envolve risco de multas em caso de descumprimento. Com a nova
figura, o comercializador varejista representaria seus clientes na
Câmara.
"Quando você cria essa nova
representação, é bastante positivo, porque dá chance aos menores de
participar do mercado livre", opina o diretor da Abraceel. A entidade
ainda defende que a expansão do leque de agentes que podem participar do
ambiente livre é importante e poderia acontecer "o quanto antes".
Um dos pontos destacados por Medeiros é
que o País possui muitas comercializadoras, o que criaria um bom
ambiente para a ampliação do mercado livre. "A teoria econômica diz que
quanto mais competidores, melhor. Temos vários agentes comprando e
vendendo, nosso mercado é competitivo, e isso é positivo para o
consumidor".
O governo, porém, ainda não dá sinais
de que vá ampliar o segmento. Em entrevista recente ao Jornal da
Energia, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio
Zimmermann, foi questionado sobre o tema e disse apenas que o mercado
"tem uma proporção interessante".
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