sábado, 7 de julho de 2012

Relação melhor entre concessionária e cliente

Fonte: Andrade&Canellas



Uma revolução está prestes a mudar o setor elétrico nacional. A adoção pelas disstribuidoras nesta década das redes inteligentes (smart grid) irá transformar a relação entre concessionárias e clientes, que passarão a ter um leque de opções à sua escolha. Sua implementação permitirá que as máquinas e equipamentos conversem entre si, buscando maior eficiência e que cada eletrodoméstico tenha seu consumo em tempo real avaliado pelo consumidor. Esta nova rede também vai aumentar a interação com o consumidor, que poderá ter à sua disposição tarifas diferenciadas por horário.
Com o sistema, o consumidor poderá ver em reais quanto cada equipamento gasta em sua casa e, com isso, gerenciar o horário de funcionamento de alguns eletroodomésticos, como uma máquina de lavar, que poderá ser ligada de madrugada, quando a energia fica mais barata. Pelo celular, ele ainda poderá desligar ou ligar um aparelho para reduzir seu consumo. Nas cidades inteligentes, o cenário do futuro poderá reforçar o carro elétrico, que, para ser abastecido, precisa de carregamento de sua bateria.
O consumidor poderá se tornar participa.nte ativo de outra ponta do setor elétrico: a microgeração de energia. O cliente residencial terá painéis solares instalados em sua casa e poderá até vender parte da energia à rede ou abater de sua conta com esse crédito. Ou seja, além de consumidor, a pessoa terá um crédito a ser negociado com o sistema. "Os medidores inteligentes são condição básica para a distribuição da geração solar, porque os aparelhos permitem saber se o cliente está consumindo ou se está exportando para a rede", diz Paulo Ricardo Bombassaro, diretor de engenharia da CPFL Energia.
Com o smartgrid, a energia solar pode ganhar espaço. Hoje, o princiipal obstáculo para gerar energia a partir da luz do sol é a tecnologia e o preço. O Brasil não tem um parque industrial instalado de fabricantes de painéis fotovoltaicos, o que implicaria na importação de peças e equipamentos, mas este é um segmento a ser desenvolvido no país nos próximos anos. Outras fontes renováveis, como as eólicas, também poderão ganhar mais esspaço. Na Europa, algumas concesssionárias oferecem a possibilidade de o cliente escolher se a fonte de energia de sua casa virá de uma fonte renovável ou térmica.
Esse tipo permitirá a instalação de microgeradores eólicos em condomínios e casas, com cada consumidor podendo oferecer o excedente de energia ao sütema interrligado. "O consumidor passa a ter mais ferramentas para gerar o consumo e o uso da energia e, como a eólica é uma fonte limpa, podemos ter mais estímulos com o smart grid", diz Elbia Meio, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Parte da regulamentação sobre a implementação das redes inteeligentes - como os medidores a serem instalados nos clientes de baixa renda e o estabelecimento de tarifas horárias - está em discussão pública na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que definirá os pontos neste ano. "Em relação aos medidores inteligentes para os clientes de baixa tensão, esperamos a regulação da Aneel, mas em relação aos consumidores de média e alta tensão contratamos softwares e aparelhos para eles, em um projeto que contempla nossas distribuidoras", afirma Bombassaro.
A CPFL Energia pretende investir R$ 50 milhões na instalação de 25 mil medidores até 2013 para os clientes de média e alta tensão. "Essa infraestrutura de software e de comunicação será aproveitada nos consumidores residenciais", destaca. No dia 25 de maio, foram instalados os dois primeiros medidores. Até o fim do ano, serão instalados 3,5 mil. A expectativa é de que até julho de 2013 os 25 mil estejam colocados.
Desde 2010, a CPFL tem invesstido na instalação de chaves telecomandadas. Até o fim de 2013, serão colocadas 5 mil, das quais 2,8 mil já foram instaladas. Com esses equipamentos, o sistema elétrico é monitorado em tempo real, o que permite acompanhar eventuais ocorrências com mais agilidade. "Podemos isolar um ponto com defeito com mais rapidez e, com isso, conseguimos restringir um problema a apenas um bairro, em vez de toda a cidade sofrer com a interrupção", diz Bombassaro. No projeto, entre instalação das chaves, softwares e módulos, será investido R$ 125 milhões.
A adoção de medidores inteligentes na indústria e no comércio mudará o relacionamento da distribuidora com os clientes. Hoje, uma vez por mês, funcionários da CPFL vão aos clientes de média e alta tensão fazer a medição. Até 2013, com a implementação das redes inteligentes, a rotina será mudada: a telemedição permitirá leituras a cada 15 minutos ou em tempo real, caso haja necessidade. Em caso de falta de luz, o cliente nem mais precisará ligar para a distribuidora, porque a concessionária saberá o que ocorre na hora. "Podemos ainda acompanhar o consumo do cliente e saber em qual horário ele mais precisa de energia ou podemos ter maior precisão em avaliar a qualidade do fornecimento e descobrir perturbações que ele nem percebeu", diz Bombassaro.
O smart grid pode ter impacto sobre o cenário de investimentos nos próximos anos. "Ele poderá permitir grande eficiência na rede, porque as concessionárias terão melhor conhecimento de onde se consome mais e as maiores deficiências. Isso fará com que haja necessidade de menos investimentos em novas usinas. Acho que sua implementação poderia ser acelerada, porque poderia até contribuir para a redução sobre a pressão dos preços da energia elétrica", afirma José Luiz Alquéres, ex-presidente da Light e da Eletrobras.
Os fabricantes estão acompanhando de perto as discussões em relação à implementação do sistema. Mais de R$ 20 bilhões poderão ser investidos pelas concessionáárias na implantação das redes inteeligentes nesta década. Hoje, o setor conta com 65 milhões de medidores e o custo de um equipamento inteligente estaria em R$ 200 por medidor. Isso dá uma dimensão do mercado. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) disscute a regulação do tema, mas a expectativa é de que os pontos em aberto sejam resolvidos até o início de 2013. "Definida a regulação, estaremos de olho nesse mercado, pensando em termos uma operação local própria ou com parceria com terceiros", diz Marcelo Prado, diretor de marketing da GE Energia para a América Latina.
Para Guilherme Valle, líder da área de energia da PWC Brasil, a implementação do smart grid depende de sua viabilidade econômica. "As concessionárias precisam ter clareza de como esse investimennto será estimado em sua base de remuneração de ativos para aplicar nesses projetos. Em paralelo, devemos assistir à consolidação de ativos, porque a terceira revisão de tarifas apontou para uma maior eficiência operacional."
Apesar de algumas indefinições, os primeiros projetos de cidades inteligentes estão saindo do papeL Situada no Vale do Paraíba, distannte pouco mais de 150 quilômetros da capital paulista e conhecida por atrair todos os anos milhões de turistas e romeiros que visitam sua igreja, Aparecida foi escolhida pela EDP no Brasil como o projeto-piloto da concessionária na área de cidades inteligentes no país.
Com cerca de 15 mil clientes, o que representa 1% do universo atendido pela empresa no país, o município foi escolhido por critérios técnicos. "Mais fácil fazer em uma cidade inteira do que em bairrros", diz João Brito Martins, gestor-executivo da EDP Brasil. Até o fim do ano, serão instalados 15 mil medidores, sendo que 1.150 já foram colocados. Os clientes residenciais estão recebendo lâmpadas mais eficientes e os consumidores de baixa renda estão recebendo novos chuveiros e geladeiras.
O medidor que a concessionáária está utilizando foi desenvolvido em parceria com a fabricante nacional Ecil Energia. "Em 2006, buscamos um aparelho que pudessse nos ajudar a reduzir as perdas comerciais na nossa rede, o projeto foi evoluindo e chegou ao medidor inteligente, que está totalmente adaptado ao nosso mercado", diz Martins. Com a rede inteligente, o executivo destaca que a postura da empresa em relação aos connsumidores residenciais mudará. "Poderemos saber dos problemas em tempo real, passamos a ser ainda mais ativos em problemas que atingirem a rede, em vez da posição mais reativa de hoje em dia."
A primeira fase da adoção do smart grid, que contempla a instalação dos medidores, ações de efiiciência energética e de mobilidade elétrica, envolve R$ 10 milhões. Em 2013, a empresa irá fazer um teste com tarifas diferenciadas, selecioonando algumas residências da ciidade paulista e simulando como ficariam as contas de luz, caso o consumidor optasse pela tarifa horária. "Queremos fazer uma grande pesquisa para entendermos como podemos potencializar nossa innfraestrutura."

Roberto Rockmann

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