Internet das Coisas (IoT em Inglês), ou agora de forma mais ampla, “Internet de Todas as Coisas”, segundo Adam Greenfield, não se trata de mais um dispositivo ou uma plataforma, mas de uma era. Um tempo onde todos os objetos serão capazes de capturar, receber, transmitir, armazenar, processar e mostrar informação e, eventualmente, agir em contexto, em função da informação que possuem. Eu adiciono ainda: objetos capazes de agir em contexto por e para nós (humanos) em função da informação que possuem ou obtêm pela interação com outros objetos.
A definição é bem ampla. Para entender melhor, devemos voltar um pouco no tempo... Lá atrás, década de 80, 10 anos antes da internet, algumas máquinas começavam a ser interligadas: os caixas automáticos (ATM). Talvez não tenham sido as primeiras, mas foram de amplo uso pela população. Os ATM capturavam informações do cartão, transmitiam informação para os computadores dos bancos, mostravam saldos, e permitam ou não saques. Sim, primitivos e limitados, mas certamente uma das primeiras aparições da IoT para nós humanos.
A conexão dos objetos prosseguiu, e com o nome de telemetria foi usada para rastrear aviões, frotas de caminhões e, mais recentemente, acompanhar o consumo de energia em residências (medidores inteligentes), permitindo a gestão mais eficiente de recursos.
Bem depois, lá para 2010, a IoT começou a tomar outro rumo. Com a internet bem mais popularizada (e sendo usada como meio de conexão), voltamos a captura de informação e tomada de decisão para bem mais perto (fisicamente ou não) da... GENTE. Dá-se início à era SMART. Computadores, telefones, TVs, veículos... Toda e qualquer coisa capaz de entender algum contexto local (posição, temperatura, movimento, humor etc) e de complementá-lo através de conexões com web e outros sistemas, tornou-se potencialmente uma grande conselheira. “Pegue esta rua, ao invés daquela, para ir para casa de seus pais”; “Quando entrar no metrô, leia este livro”; “Já que está na TV, assista hoje a este filme”; “E que tal marcar seu exame preventivo (o último já faz mais de dois anos...)?”.
São os objetos conectados? Ou eu, o conectado? Em 2010, nos EUA, mais de 105 milhões de pessoas já possuíam duas ou mais conexões para a internet. E, pasmem, 4,5 milhões já possuíam mais de nove conexões. E com os vestíveis (wearables) vamos literalmente nos entregar na rede. Nossa temperatura corpórea, batimentos cardíacos, nível de movimentação, açúcar no sangue, pressão e tantos outros indicadores do nosso estado de saúde poderão ser monitorados 24x7, com a séria possibilidade do medidor (vestível) não passar de uma simples tatuagem de um circuito impresso na pele. As projeções de mercado para a IoT são gigantescas.
A CISCO fala em 50 bilhões de coisas conectadas em 2020 - não sei se incluindo nós, 7,6 bilhões, ou não. As vacas, sim, todas serão rastreadas. Os setores impactados? Praticamente todos. De saúde às casas, do agronegócio e das utilidades ao setor automobilístico. Nada será como antes.
Nas casas podemos imaginar fogões que conversam com geladeiras, que pedem receitas que contenham os alimentos mais próximos do prazo de validade. No carro, que tal ele avisar quando é tempo de fazer a revisão? E se entrar em contato com a concessionária mais próxima de sua residência, verificar sua agenda no smartphone e programar a revisão com todas as partes para data mais próxima? Sim, por que não? Os cenários são milhares.
Maiores ainda são os desafios até chegarmos lá. Para nós humanos (mais velhos), segurança e privacidade são os primeiros a saltarem os olhos. O que faremos, ou como nos adaptaremos a um mundo nu? Nu por ter se tornado vazio em privacidade. E nu também por permitir a antecipação de muitos, senão todos, os nossos passos. Viveremos bem, sem surpresas ou imprevistos? Viveremos bem sem segredos?
Em tecnologia ainda vamos levar algum tempo para reduzir drasticamente o consumo de processadores e equipamentos de transmissão, e mais algum para conseguirmos extrair a energia (que eles ainda precisarão) do próprio ambiente.
Por fim, temos o desafio maior, talvez. O de negócios. O de criar padrões abertos e intercambiáveis, que permitam a construção de uma plataforma (não de uma solução), onde, como na internet, todos cooperem, com riscos mínimos de obsolescência de partes, a fim de permitir a evolução das partes de forma suave. Dos sensores e atuadores, aos sistemas de armazenamento e processamento de dados, tudo. Algo como o que aconteceu no tempo dos PCs, uma plataforma de compatibilidade como a WINTEL (WINDOWS + INTEL), para a qual existem muitos fornecedores de software e de hardware (normalmente compatíveis entre si). Alguns grandes estão tentando, mas as soluções atuais são verticais inteiras.
Vamos chegar lá? Não sei, espero! Mas o certo é que temos bons desafios e grandes oportunidades pela frente. Alea jact est!
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