Se dependesse das concessionárias, o mercado de banda larga fixa teria encolhido em 2014 em 157 mil acessos.  O crescimento da base em 8% (contra 11,9% em 2013), somando 24 milhões de acessos de acordo com dados da Anatel, só aconteceu graças ao desempenho da Net (+ 13%), da GVT (+ 16,3%) e dos provedores regionais de acesso à internet e serviços de telecom, que, juntos, acrescentaram 433,9 mil acesso (+ 27,6%).
Frente ao cenário econômico, tanto a Net como a GVT esperam repetir, em 2015, o desempenho do ano passado. E não acreditam em um crescimento geral superior a 8 ou 9%. A não ser, avaliam analistas, que o governo implemente a nova etapa do  PNBL, envolvendo recursos públicos, além dos investimentos privados, como vem prometendo o governo. Segundo o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, o novo PNBL vai ser anunciado ainda neste semestre.
Para se ter um crescimento de dois dígitos é preciso agregar a capilaridade das concessionárias. E elas vêm perdendo terreno e clientes para as novas entrantes. Oi, Algar Telecom e Sercomtel ficaram com saldo positivo em adições de acesso banda larga em 2014, em relação a 2013 (+ 48 mil acessos). O crescimento foi muito pequeno: Oi (+ 0,38%), Algar (+ 6%) e Sercomtel (+ 3%). A vilã que levou ao saldo negativo foi a Telefônica Vivo, que perdeu 205 mil acessos em sua base, que fechou 2014 com 4,102 milhões.
Tropeços da greve
O desempenho pífio das concessionárias impediu na banda larga impediu que a meta do governo – levar a banda larga fixa a 40% dos domicílios até 2014 – fosse cumprida. A cobertura ficou em 36,15% dos domicílios brasileiros. Embora a banda larga móvel venha crescendo em ritmo acelerado – 55% de dezembro de 2013 a novembro de 2014, chegando a 162 milhões de acessos  (87% do total de acessos) –, é a banda larga fixa que ainda provê maiores velocidades, essencial para aumentar a produtividade da economia, e chega a todos os municípios brasileiros (meta do PNBL que foi cumprida pelas concessionárias).
Por estar em período de silêncio em função da análise, pelo Cade, da compra da GVT, a Telefônica Vivo não concedeu entrevista ao Tele.Síntese. Assim, só é possível supor os motivos que levaram ao encolhimento de sua base instalada de acessos de banda larga fixa. Certamente, o cenário de retração é conseqüência de vários fatores. Entre elas os observadores desse mercado destacam: redução dos investimentos em função das incertezas em relação ao futuro da concessão (a banda larga será ou não transformada em serviço público? O que acontecerá com as redes sobre as quais o serviço é prestado? Vão ser consideradas bens reversíveis da União?); limpeza da base em dezembro, quando perdeu mais de 300 mil acessos; compasso de espera para aguardar a fusão da GVT.
Já a Oi diz que teria crescido dentro da média do mercado (+8%) se não tivesse enfrentado tropeços na instalação de novos acessos e na reparação dos acessos em serviço. “Não faltaram investimentos. Temos três milhões de portas de banda larga disponíveis para serem comercializadas”, revela Bernardo Kos Winik, diretor de varejo da Oi.No entanto, ele não credita o baixo crescimento da base da Oi a uma retração do mercado, e sim aos problemas enfrentados pela operadora com instaladores de rede terceirizados. “Foram cerca de três meses de greve nos estados do Sul, e outro tanto na Bahia, em duas ocasiões. Perdemos nas duas pontas. Deixamos de instalar novos acessos e perdemos clientes porque não atendemos pedidos de reparação”, esclarece, informando que a Oi já adotou as providências necessárias para que o episódio não se repita: “Montamos um plano de contingência em relação a esses prestadores de serviço.”
Por conta dos meses de greve, a Oi, de acordo com Winik, deixou de instalar quase 400 mil acessos. “Como também perdemos clientes, o saldo de crescimento da base foi pequeno”, conta ele. Se houve problemas na instalação e reparação, Winik diz que os investimentos feitos na expansão da rede de transmissão, principalmente em fibra óptica, vêm gerando bons efeitos, com a comercialização de acessos em velocidades maiores, mesmo fora das regiões metropolitanas.
“Registramos um crescimento no segmento residencial de  15,7% no terceiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado”, informa. Dados da empresa indicam que os acessos a partir de 5 Mbs aumentaram 9,4 % no terceiro trimestre de 2014 e a velocidade a partir de 10 Mbps, 3,8%.  A grande maioria dos novos acessos instalados em 2014 são em tecnologia xDSL, que ainda domina 55% da base de acessos banda larga no país, mas vem perdendo terreno para a tecnologia cable modem (graças ao avanço da Net) e fibra. Os acessos em fibra da Oi (FTTx) estão restrito às cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. “Em 2015, vamos continuar expandindo nossa rede nessas cidades”, informa Winik, revelando que não há planos para entrar com FTTx em novas cidades. “Nossa prioridade é a melhoria da rede de banda larga atual.” A base atual (dezembro de 2014) de acessos fixos de banda larga da Oi é de 6,6 milhões, a segunda do ranking. A primeira é do grupo América Móvil (Net, Embratel e Claro), com 7,5 milhões.
Mais fibra, menos cabo
Embora o cenário econômico não seja favorável para 2015, a Net espera, neste ano, repetir o desempenho de 2014 em expansão dos acessos em banda larga.  Na avaliação de André Guerreiro, diretor de inteligência de mercado Net, o fato de a banda larga ser sinônimo de internet e de TV, com serviços de cultura, lazer e informação, a transforma em gênero de primeira necessidade. “A banda larga passou a ser essencial para as famílias e também para muitos tipos de trabalho”, avalia ele.
De acordo com ele, não está prevista para 2015 o número de cidades atendidas – hoje são cerca de 180. Mas ele diz que, onde a Net está presente, ela vem investindo para expandir a rede em direção a áreas com densidade populacional para dar escala à operação. Isso significa avançar em direção a bairros populares, que não atendia antes, como vem acontecendo em várias capitais do Norte e Nordeste.
À expansão dos acessos se soma o aumento contínuo da velocidade. O cliente médio da operadora contra velocidades entre 10 e 30 Mbps, a demanda por 100 Mbps vem crescendo. Pontualmente, a empresa oferece 500 Mbps. “O aumento da velocidade média cresce continuamente”, diz Guerreiro, que credita o fato de a Net liderar o crescimento na banda larga fixa a três fatores: expansão da rede, inovação e qualidade do serviço.
Para levar mais velocidade ao cliente, a Net tem que reduzir o trecho final de cabo coaxial. “Cada vez mais o hub tem que estar mais perto da casa do cliente nas velocidades mais altas”, explica Guerreiro. Essa é a mesma estratégia traçada pela GVT, embora sua tecnologia seja um híbrido de fibra e par de cobre enquanto a da Net é um híbrido de fibra e cabo coaxial (cable modem). “Vamos avançando com a fibra até chegar na casa do cliente”, diz Ricardo Sanfelice, vice-presidente de marketing e qualidade da GVT. No segundo semestre de 2014, a GVT iniciou uma experiência em Araraquara (SP), implantando uma rede só de fibra, sem nenhum metro de par de cobre.
Sanfelice afirma que, como a banda larga é o core business da operadora, ela vai continuar investindo em sua expansão. Como Guerreiro, da Net, ele tem planos de manter o crescimento registrado em 2014, mas prevê que o mercado como um todo deve se manter em torno de 8%, 9%. “As empresas com redes mais novas, como é o nosso caso e da Net, levam vantagem em relação às redes legadas das concessionárias, pois estão mais preparadas para entregar mais velocidade e mais qualidade. O terceiro vetor é o preço. Temos uma manutenção mais barata e transferimos essa diferença para o consumidor”, diz ele.
Para 2015, a expectativa da GVT é entrar em mais seis novas cidades (fechou o ano com presença em 156 cidades). “Realizar essa meta vai depender das licenças para construção da rede”, explica. Para isso, a empresa vai manter o ritmo de investimento de R$ 2 bilhões, realizado em 2014, que encerrou com uma base de 2,9 milhões de clientes de banda larga.