Do mesmo modo que a "Internet das
Coisas" (IoT, na sigla em inglês) desponta rapidamente como a nova
tendência tecnológica mundial, ela também desperta preocupação de
especialistas em segurança e privacidade. Um sintoma disso pôde ser
verificado durante a feira de eletrônicos Consumer Electronics Show (CES
2015), realizada esta semana em Las Vegas, nos EUA, onde os
dispositivos conectados dominaram a cena, deixando a impressão de que
uma antiga promessa da indústria — a da "casa conectada" — está menos
distante de se tornar realidade do que se pensava.
À medida que mais dispositivos forem sendo conectados à internet —
smartphones, pulseiras, cafeteiras, geladeiras e televisores —,
especialistas em segurança advertem que mais devem crescer as ameaças à
segurança e à privacidade. Hackers já violaram sistemas de câmeras
conectadas à internet, smart TVs e até babás eletrônicas, informa artigo
do The New York Times. Em um dos casos mais recentes, alguém cortou a
configuração da câmera em rede e usou-a gritar obscenidades em uma
creche.
Embora até agora haja poucos registros de ameaças à segurança de
casas conectadas, esses especialistas preveem que hackers, que hoje
visam principalmente gigantescas bases de dados para obter a acesso a
dados de cartões de crédito e informações pessoais, passarão a mirar
cada vez mais os dados de nossos dispositivos e aparelhos. E, o pior:
esses dados podem ser compartilhados de forma não prevemos ou podem vir a
ser parte de violações maiores.
Durante palestra na CES 2015, Edith Ramirez, presidente da Comissão de Comércio Federal dos EUA (FTC,
na sigla em inglês), disse que a tendência de ter tantas coisas
constantemente conectadas à internet apresenta riscos graves e que os
grandes fornecedores de tecnologia precisam levar isso a sério.
"Qualquer dispositivo que esteja conectado à internet corre o risco de
ser 'sequestrado'", disse ela. "Além disso, os riscos que o acesso não
autorizado cria tende a se intensificar à medida que cada vez mais
dispositivos sejam interligados, como nossos carros, aparelhos de
cuidados médicos e casas."
Sequestro de computador
Os riscos apontados pela presidente da FTC incluem a coleta
generalizada de informações pessoais, com ou sem o conhecimento dos
consumidores, uso indevido dessas informações e roubo real dos dados.
Segundo os especialistas, talvez pelo fato de os dispositivos conectados
seram relativamente novos, muitos deles, ou os aplicativos e serviços
que os alimentam, não dispõem de recursos de segurança integrados
capazes de bloquear que uma casa inteligente seja "invadida".
Um problema de segurança comum, apontado por alguns especialistas em
segurança, é quando uma pessoa visita um site que tem um código
malicioso embutido. Mesmo que ele não tenha clicado em nada, o código
será executado, permitindo que o computador seja "sequestrado" e
trabalhe como parte de uma botnet [rede de máquinas invadidas
controladas a distância]. "E os dispositivos que estiverem conectados,
como TVs e geladeiras, podem se tornar parte dessas botnets", afirmou
Bogdan Botezatu, analista sênior de ameaças da empresa de segurança
Bitdefender.
Segundo Botezatu, não importa muito para o hacker quanto poder de
processamento tem a máquina ou que tarefa esses dispositivos
inteligentes pode realizar. "Se permitirem chegar a um website — e
permitem, porque eles se conectam a seus próprios sites — eles podem ser
usados. Conseguir algo via internet ainda vale um monte de dinheiro, e a
Internet das Coisas é uma ferramenta poderosa para fazer isso", afirmou
ele.
Valor para hackers e usuários
Um aspecto observado por Chris Babel, executivo-chefe da empresa de
gestão de privacidade de dados TrustE, é que ainda estamos nos
primórdios da Internet das Coisas. "Tudo ainda está muito em silos e não
é muito interligado", disse. "Mas há uma quantidade enorme de valor
quando tudo é conectado, tanto do 'perspectiva dos hackers quanto dos
usuários."
Para Edith Ramirez, da FTC, as empresas precisavam "dar prioridade à
segurança e construir a segurança em seus dispositivos, desde o início."
Ela recomendou atenção à privacidade e avaliações de riscos na fase de
concepção de novos produtos, e também que os usuários sejam forçados a
configurar novas senhas em vez de usar senhas padrão em dispositivos
sensíveis, como roteadores de internet e usando criptografia sempre que
possível.
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